sábado, 5 de março de 2011

A reinvenção da sexualidade masculina na paraplegia adquirida - Parte 1



O trabalho dos professores acima citados, aborda a sexualidade masculina discutida a partir de um homem com lesão medular. O objetivo do artigo foi investigar o impacto da paraplegia adquirida na sexualidade masculina. As conclusões desse trabalho apontaram para um posicionamento interno e a busca de formas de viver a sexualidade que valorizem a singularidade da experiência, em detrimento dos modelos tradicionais. Hoje, faremos um estudo da primeira parte desse artigo. Vale a pena acompanhá-lo!

As lesões medulares acometem mundialmente 30 pessoas por milhão de habitantes, principalmente homens na faixa etária entre 20 e 30 anos, segundo apontamentos de Casalis (1995).
Na cidade de São Paulo, revela o estudo de Colucci (2003), a causa principal é a violência, por meio das armas de fogo e do trânsito.

Deficiência e Sexualidade Masculina
Enfocar a sexualidade masculina a partir da deficiência não é um tema recorrente na literatura da Psicologia. A rigor, verifica-se que os trabalhos sobre o assunto são poucos e esses, de modo geral, tratam de aspectos específicos de determinado tipo de deficiência. Nas paraplegias adquiridas, a deficiência em foco neste trabalho, a ênfase tem recaído sobre a reabilitação da função sexual, a qual compreende os aspectos fisiológicos, tais como ereções, ejaculações, orgasmo, por exemplo.

De forma mais detalhada, o estudo da área permite constatar algumas evidências. A primeira caminha em direção às conclusões de Bruns (1998), que vê a sexualidade das pessoas com deficiência velada pelo silêncio. A segunda aponta para o universo representacional que cobre a sexualidade dessas pessoas.

Nesse último domínio, um relevante estudo é apresentado por Giami e D'Allonnes (1984). Pesquisando a representação de pais e professores a respeito da sexualidade de pessoas com deficiência mental, eles se depararam com dois tipos predominantes de atitudes: pais que a vêem como angelical e professores que a recobrem com a dimensão da monstruosidade. Se a sexualidade é de anjo, ela não existe; se ela é de monstro, é necessário escondê-la. Os autores escrevem: O sistema de representação edificado pelos pais e pelos educadores em torno da sexualidade dos deficientes mentais funciona como um sistema de defesa coletivo para com a sexualidade compreendida como ameaçadora, tanto em sua dimensão "selvagem" e "bestial", como na dimensão "angelical". É o conjunto da organização psicossexual dos deficientes mentais (com todas as diferenciações possíveis quanto à natureza da deficiência) que é apreendido fundamentalmente como intolerável. (GIAMI; D'ALLONNES, 1984, p. 40)

Investigando a sexualidade de pessoas cegas, Bruns e Leal Filho (1996) analisaram anúncios classificados, que visavam o estabelecimento de correspondência e ou vínculo afetivo, publicados na Revista Brasileira para Cegos e no jornal Folha de São Paulo. Entre outras constatações, os pesquisadores se depararam com descrições nas quais as pessoas com deficiência visual expressavam uma supervalorização dos atributos visuais.

Se no primeiro estudo citado, o de Giami e D'Allonnes (1984), a sexualidade é adjetivada, de modo a ser negada, no segundo, o de Bruns e Leal Filho (1996), ela mostra que os indivíduos com deficiência visual lançam mão do que consideram ser um comportamento padrão quando se lida com as coisas do sexo.

Em um artigo sobre sexualidade e deficiência, Mazin e Pinel (1984) apontam que a negação da sexualidade das pessoas com deficiência acontece da mesma forma que lhes são vedadas melhores condições de vida e o desenvolvimento de potencialidades não exploradas. Para esses autores, a origem da dificuldade dessas pessoas no desempenho dos papéis de gênero deve-se à introjeção excessivamente rígida de papéis sexuais.

Estudando o autoconceito e a postura frente à sexualidade em dez pessoas com deficiência física, Aloisi e Lipp (1988) constataram que os homens (cinco ao todo) se atribuíram um número maior de pontos positivos que as mulheres em um questionário que avaliava a visão que tinham de si e a que supunham que os outros tinham sobre eles. Dos sujeitos pesquisados, 71,4% indicaram que a maior dificuldade que encontravam para ter um relacionamento sexual era o constrangimento que sentiam em expor sua deficiência física. Destacando a importância dos papéis sociais tradicionais nos resultados, os autores afirmam: "As respostas parecem refletir muito mais os papéis sociais a que todos estão, geralmente, expostos, do que uma dicotomia "deficiência não-deficiência", desde que o defeito físico não pareceu estar determinando seu comportamento verbal." (ALOISI; LIPP, 1988, p.138)

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